Como É Em Cima, É Em Baixo 
(Revista Rosacruz de Portugal. nº 343 - Jan/Fev/Mar de 1997). 
No Conceito Rosacruz do Cosmo cita-se, várias vezes, a regra
"Como é em cima, é em baixo, e como é em baixo é em cima".
É uma regra "hermética". Este termo popular, muito em voga entre os alquimistas antigos, serve para abranger o conhecimento esotérico de todas as culturas antigas. Surgiu no Ocidente depois do séc. XII, com a divulgação de uma série de obras atribuídas a Hermes.

Hermes Trismegisto (três vezes grande) foi uma personagem mítica. Foram-lhe atribuídas muitas obras pertencentes aos neoplatónicos egípcios.

O deus egípcio Thot, que simboliza o Intelecto, foi identificado pelos gregos com o próprio Hermes, na época de Platão (por volta do séc. 400 a.C.).

Thot-Hermes foi citado como a fonte de todas as invenções e sabedoria secreta, de quem Pitágoras e Platão teriam obtido as suas ideias. Por outras palavras, estes filósofos recorreram à tradição dos Mistérios e às ciências esotéricas arraigadas na cultura dos povos do Ocidente, para escreverem as suas obras.

O número de obras atribuídas a Hermes é enorme. Clemente de Alexandria menciona a existência de 42, no seu tempo (séc. II a III), número um tanto incerto.

A mais conhecida de todas as obras é a Tábua de Esmeralda (em latim, Tabula Smaragdina), que é citada por todos os alquimistas desde a Idade Média 1 . Atribuem-lhe uma origem misteriosa: a Tábua teria sido gravada numa esmeralda (e daí o seu nome), por Hermes em pessoa, e encontrada no seu túmulo. É este, precisamente, o cenário que encontramos na obra rosacruciana intitulada Fama Fraternitatis Rosae Crucis, ao referir-se ao túmulo de Cristão Rosacruz (Christian Rosenkreuz). O texto da Tábua parece ser uma tradução de um texto árabe do séc. X, por sua vez traduzido de um original grego mais antigo (séc. IV?).

Para quem está a par da doutrina hermética e alquímica, a leitura destas linhas está cheia de sentido. Encontra-se aí a doutrina da unidade cósmica, defendida pelos modernos cientistas, e o princípio da analogia e das correspondências entre todas as partes da criação.

No segundo parágrafo encontramos a frase que nos interessa: "O que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima, para consumação dos milagres da unidade".

Diz-nos, à sua maneira, que toda a vida está unida por uma espiral de harmonias. Vamos dar um exemplo, para ajudar a compreender como isto é possível.

Talvez a música nos dê uma boa ajuda. Quando se toca uma nota qualquer, dá-se origem a uma série de "outras notas", que não se ouvem. Tecnicamente, são conhecidas por "harmónicos". Se pudéssemos congelar uma nota musical, verificaríamos como estes sons mantêm entre si uma relação matemática. Por meio de experiências simples é possível comprovar esta realidade, claramente descrita nos estudos básicos da teoria musical.

Se estudarmos a lei da ressonância harmónica 3 encontraremos o fundamento da teoria cosmogónica de um universo criado segundo leis harmónicas - no sentido musical do termo.

Se examinarmos o teclado de um piano veremos que existem oito oitavas. A nota , por exemplo, repete-se oito vezes. O primeiro é muito grave e o último muito agudo. Se se tocar um , vê-se que os outros também vibram.

Este exemplo permite-nos compreender como se faz o raciocínio por analogia, isto é, como se pode concluir de um caso conhecido para outro, em virtude de certas características semelhantes. E ajuda-nos também a entender que o Todo é uma unidade com as suas diversas partes (mundos ou planos, regiões, etc.). Cada uma dessas partes é um conjunto equivalente aos outros. Por sua vez, cada um diversos elementos correspondem-se um a um. Deste modo, um elemento de cada parte representa simbolicamente e influencia, por simpatia, outro elemento de um mundo ou plano diferente. E assim podemos dizer, na verdade, "que aquilo que está em baixo, é como aquilo que está em cima". Por outras palavras, "sempre que os laços forem atados cá na Terra, não poderão ser desatados lá no Céu", sendo o inverso igualmente verdadeiro.
 

1 Entre outras obras temos o célebre apócrifo denominado Livro dos XXIV Filósofos, onde está a célebre definição de Deus: "círculo cujo centro está em toda a parte e a circunferência em parte nenhuma".

2 A simples experiência de encostar o ouvido a um piano ou viola revela uma inesperada vastidão de sons. Esta ressonância não existe nos instrumentos electrónicos, onde apenas se obtêm efeitos artificiais, por meio de reverberadores. A consciência moderna apenas reconhece na música a estrutura exterior e imediatamente audível.

3 Que atribui o número 1 ao som fundamental (ou 1º "harmónico"), o 2 ao "2º harmónico", uma "oitava" acima, etc.

4 Referida por Platão, no Timeu. Se considerarmos o período de rotação da Terra, de 23 horas, 56 minutos e 4 segundos, o que totaliza 86 164 segundos, e dividirmos a unidade por este número, teremos a frequência de 0.000.001.160.576 hz.; 24 oitavas acima temos a frequência 194,75 hz, que é a da nota sol. A expressão "música das esferas", usada hoje em dia sem conhecimento de causa, readquire, assim, o verdadeiro significado.

written by Jário Araujo
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